quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobre a Equifinalidade e Teoria da Contingência

Olá, boa noite.
Hoje a publicação será mais curta que o normal, e o propósito é apenas o de compartilhar ideias interessantes ligadas às nossas áreas. Neste caso em especial, esta é a transcrição de uma resposta que produzi em uma prova da disciplina Teorias Organizacionais - que obteve 100% de nota na correção. Desta forma, assumo que o que aí consta é válido.

Bibliografia:

DiMAGGIO, Paul J., POWELL, Walter W. A gaiola de ferro revisitada: isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais. Revista de Administração de Empresas, v.45, n.2, p.74-89, 2005.

KATZ, Daniel; KAHN, Robert L. Organização e o conceito de sistema. In: ______. Psicologia social das organizações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1987. Cap. 2- 3, p. 30-87.

Como a equifinalidade, uma das propriedades dos sistemas sociais, é explorada nas teorias organizacionais? Aponte e explore esta propriedade em uma das teorias organizacionais.

R: Katz e Kahn descrevem um modelo de sistema de input-output de energia que baseia-se na teoria de sistema aberto, exposta por von Bertalanffy em 1956, indicando a aplicabilidade dos conceitos de sistemas das ciências naturais aos problemas das ciências sociais. Assim, os sistemas sociais, dentre eles as organizações, possuiriam nove características comuns aos sistemas abertos, dentre estas, o princípio da equifinalidade. De acordo com esse princípio, um sistema pode alcançar, por uma variedade de caminhos, o mesmo estado final, partindo de diferentes condições iniciais. Entretanto, à medida em que os sistemas abertos se deslocam em direção a mecanismos regulatórios para controlar suas operações, a quantidade de equifinalidade pode ser reduzida. Conforme pedido na questão, escolherei a Teoria da Contingência para apontar e explorar esta propriedade. Esta teoria estabelece que não há uma estrutura organizacional única que seja altamente efetiva para todas as organizações; para ser efetiva, uma organização precisaria adequar sua estrutura a seus fatores contingenciais, e assim ao ambiente, através de análises de seu desempenho. Ao contrário, por exemplo, da teoria institucional, que descreve o processo de isomorfismo como necessário para o sucesso organizacional em campos organizacionais, a teoria da contingência estabelece que existem diversos tipos de estrutura possíveis para se alcançar o sucesso, dependendo de uma análise dos fatores contingenciais para ser estabelecida.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Guerreiro Ramos: Sobre "Política Cognitiva, Síndrome Comportamentalista e Teoria da Delimitação dos Sistemas Sociais"

Caros leitores, boa tarde. 
Peço desculpas pela falta de novas publicações, garantindo não ser por falta de conteúdo interessante para ser compartilhado mas, sim, por falta de tempo.

Para não deixar o blog abandonado, será postado aqui algo mais sociológico, uma parte de um dossiê que fiz para a disciplina de Teorias Organizacionais. Antes de cursar essa incrível "cadeira" na UFRGS, não conhecia este tremendo autor.

Alberto Guerreiro Ramos foi um sociólogo brasileiro bastante influente, um autor incrível, tendo sido respeitado até mesmo em universidades estadunidenses. Esta seção é referente a 3 capítulos do trabalho de Guerreiro Ramos em sua obra "A Nova Ciência das Organizações", conforme citação bibliográfica abaixo.

RAMOS, Alberto Guerreiro. A Síndrome comportamentalista; Política cognitiva; Teoria da delimitação dos sistemas sociais. In: ______. A Nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989. Cap. 3, p. 50-68; Cap. 5, p. 86-117; Cap. 7, p. 140-154.



Espero que seja desfrutada esta leitura e recomendo atenção para as diferenças propostas pelo autor para os conceitos de comportamento e ação, e também para a definição de "homem bom".

"[...] Neste dossiê escolheu-se tratar sobre Alberto Guerreiro Ramos e alguns de seus textos presentes em “A Nova Ciência das Organizações”.

No primeiro capítulo, trata-se sobre o assunto da síndrome comportamentalista. Ramos inicia a discussão com o argumento de que a maior parte do “que é usualmente denominado teoria da organização é desprovida de rigor científico” e que esta “considera como normais e naturais os requisitos organizacionais tal como, por acaso, são encontrados sobrepondo-se à conduta humana como um todo” (1989, p. 50).

Para o autor, deve-se distinguir os termos comportamento e ação, sendo que o primeiro seria uma forma de conduta baseada na racionalidade funcional, e o segundo significando uma forma ética de conduta, (1989, p. 51) “própria de um agente que delibera sobre coisas porque está consciente de suas finalidades intrínsecas”. Guerreiro Ramos declara então que “a síndrome comportamentalista, isto é, a ofuscação do senso de critérios adequados de modo geral à conduta humana, tornou-seuma característica básica das sociedades industriais contemporâneas” (1989, p. 52).

Existem quatro traços principais desta síndrome. O primeiro é a fluidez da individualidade, ligado à ideia de que a conduta humana se conforma a critérios utilitários; “criados pelo homem, os valores não são “perpétuos, imutáveis e inequívocos, a natureza humana é fraca e inconstante” (HAUSER apud RAMOS, 1989, p. 53). O segundo é o perspectivismo, um tipo peculiar de conduta, onde o homem só leva em conta “as conveniências exteriores, os pontos de vista alheios e os propósitos em jogo” (RAMOS, 1989, p. 57).

O terceiro aspecto é o formalismo, “onde a observância das regras substitui a preocupação pelos padrões éticos substantivos” (1989, p. 59) e, finalmente, o quarto é o operacionalismo positivista, “permeado de uma orientação controladora do mundo” que induz pesquisadores a “enfocar seus aspectos suscetíveis de controle” (1989, p. 63). Segundo o autor, o operacionalismo é deturpado em sua identificação do útil com o verdadeiro, defendendo que despojaram a utilidade de seu caráter eticamente ambíguo, legitimando como normas gerais aquilo que é útil ao sistema social para o controle dos seres humanos que dele participam” (1989, p. 65).

No segundo capítulo proposto, Alberto G. R. descreve a política cognitiva como um instrumento que garante à atual teoria organizacional sua hegemonia, dizendo que o “uso consciente ou inconsciente de uma linguagem distorcida, cuja finalidade é levar as pessoas a interpretarem a realidade em termos adequados aos interesses dos agentes diretos e/ou indiretos de tal distorção” (1989, p. 87). A retórica então, constituiria uma técnica “para adular a multidão e a ser usada perante aqueles que não têm o hábito de pensar, uma vez que o retórico sofístico não pode ser convincente entre os que possuem sabedoria” (PLATÃO apud RAMOS, 1989, p. 87).

Para Guerreiro, a política cognitiva “é a moeda corrente psicológica da sociedade centrada no mercado” (1989, p. 90). O autor (1989, p. 91) é tão incipiente em sua interpretação da realidade que faz afirmações relativamente atuais, tomando-se em conta a época em que os textos foram escritos:

Os agentes da política cognitiva se diferenciam, no grau de percepções de seus papéis. Os mais conscientes deles encontram-se, geralmente, nas atividades de comunicação e publicidade. A imprensa, o rádio e a televisão estão, conjuntamente, engajados num processo contínuo de deliberada definição da realidade. Os instrumentos da mídia são utilizados como armas na competição para influenciar a interpretação que o povo dá à realidade. [...]. Uma hora de televisão é suficiente para que qualquer um perceba que a política de cognição é um fato preponderante da vida contemporânea.

Numa sociedade de mercado, o empregado eficiente deve ser um ator despersonalizado, segundo Ramos (1989, p. 98). Esta exigência se configura em verdade conflito, permanente e inevitável, somente podendo ser eliminado pela “morte do ser humano ou por sua paralisia” (1989, p. 100). A chamada deformação da pessoa humana “tem sido o preço psicológico” (1989, p. 107).


Alberto Guerreiro Ramos

No terceiro e último capítulo proposto, Guerreiro Ramos apresenta seu modelo multidimensional, em contrapartida ao modelo tradicional, tido como unidimensional, no sentido de focar-se apenas no mercado. Na abordagem guerreirista, o homem está inserido em uma realidade multicêntrica, com diversos enclaves (o mercado é apenas um deles).

Neste paradigma, chamado de paraeconômico, existe uma orientação individual, além da comunitária. Em uma abordagem unidimensional, “reduzem o indivíduo, ou cidadão, a um agente da maximização da utilidade, permanentemente ocupado em atividades de comércio” e no modelo multidimensional, “só incidentalmente o indivíduo é maximizador da utilidade e seu esforço básico é no sentido da ordenação de sua existência de acordo com as próprias necessidades de atualização pessoal” (RAMOS, 1989, p. 141).

Também há uma prescrição contra a ausência de normas. Não que o autor defenda um ambiente altamente normatizado; “nos sistemas sociais que visam maximizar a atualização pessoal, as prescrições não são eliminadas. São mínimas” (1989, p. 145). Para Ramos, a total eliminação das prescrições e das normas seria incompatível com uma significativa atualização humana, no contexto do mundo social, porém defendendo que um ambiente superorganizado não permite que um indivíduo disponha das condições para uma vida pessoal criativa, complementando que “preso continuamente a uma trama de exigências sobre método e organização, o indivíduo acaba por aceitar uma visão predeterminada da realidade” (1989. p. 145).

Existem algumas categorias que delimitam o paradigma paraeconômico. A anomia é conceituada como uma situação estanque, em que a vida pessoal e social desaparece, em uma ausência de normas. O motim é a referência de coletividades desprovidas de normas. A isonomia é um contexto em que todos os membros são iguais entre si. Já a fenonomia é um sistema social de caráter esporádico, “iniciado e dirigido por um indivíduo, ou por um pequeno grupo, e que permite a seus membros o máximo de opção pessoal e um mínimo de subordinação a prescrições formais” (RAMOS, 1989, p. 152). A última categoria é o ator isolado, aquele que está excessivamente comprometido com uma norma que, para ele, é única. Este encontra um “canto em que, de forma consistente, pode viver de acordo com seu peculiar e rígido sistema de crença”, considerando o mundo social, como um todo, “inteiramente incontrolável e sem remédio” (1989, p. 153)."

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sobre Empresas Estatais - Shleifer e Vishny/1997

Na última publicação, havia sido dito que o próximo post seria sobre um artigo de David Hirshleifer, Angie Low e Siew Hong Teoh, chamado "Are Overconfident CEOs Better Innovators?", publicado no Journal of Finance. Entretanto, a análise crítica deste material ainda não será publicada hoje mas, sim, no futuro. O motivo deste ajuste é o texto sobre Governança Corporativa de Andrew Shleifer e Robert W. Vishny, conforme citação bibliográfica abaixo:
SHLEIFER, A. & VISHNY, R.W. 1997. A survey of corporate governance. JOURNAL OF FINANCE 52(2):737-783.

Como o título sugere, é uma ampla pesquisa sobre Governança Corporativa. Aliás, uma excelente obra que recomendo como leitura obrigatória para qualquer um interessado no assunto.

Todo o artigo é muito bom, porém um pedaço específico me chamou demais a atenção e, por isso, será aqui transcrito, em tradução livre de quem vos escreve. 

Qualquer semelhança com nosso país, que não é citado no texto, não é mera coincidência.

páginas 767-768

 "Cooperativas e Propriedade Estatal

Nós sugerimos que, em algumas situações, concentração de propriedade pode não ser ótimo porque os stakeholders que não são shareholders, como administradores, empregados e consumidores são deixados com poucos benefícios [...] Por exemplo, firmas privadas com grandes investidores podem não proporcionar qualidade suficiente ou enganar os stakeholders da firma devido a seu foco exclusivo nos lucros. Essa lógica tem sido usada para explicar porque planos de saúde, escolas infantis e até estabelecimentos varejistas são às vezes melhor oferecidos por cooperativas, incluindo cooperativas de consumidores. Ao votar pelos preços e pela qualidade, os stakeholders conseguem um resultado melhor do que seria com um proprietário com foco na maximização dos lucros.

Um argumento similar tem sido usado para justificar a propriedade estatal de firmas. Quando há poder monopolizado, externalidades, ou probemas de distribuição de renda, as firmas privadas com foco em maximização de lucros podem falhar em lidar com estas questões. Um político "publicly spirited) (publicly spirited politician, no original), pode então melhorar a eficiência ao controlar as decisões da firma. Tal argumento de bem-estar social é subjacente ao caso tradicional de propriedade estatal de ferrovias, eletricidade, prisões, escolas, saúde pública e muitas outras atividades (Laffont e Tirole (1993), Sappington e Stiglitz (1987)). Versões deste argumento são usadas para justificar a propriedade estatal de indústrias também.

Com algumas exceções de atividades onde a argumentação sobre propriedade estatal "é vencedora" (carries the day, no original), como a polícia e as prisões (Hart, Shleifer e Vishny (1997)), a realidade da propriedade estatal é amplamente inconsistente com este argumento de eficiência. Primeiro, firmas estatais não parecem servir ao interesse público melhor que as firmas privadas. Por exemplo, em muitos países as empresas estatais são mais poluidoras que as firmas privadas. De fato, os problemas de poluição são mais severos nos países ex-comunistas (former communist, no original) que foram dominados por firmas estatais (Grossman e Krueger (1993)). Segundo, contrário ao que diz a teoria, as firmas estatais são tipicamente extremamente ineficientes (tipically extremely inneficient, no original), e suas perdas resultam em enormes despesas nos tesouros de seus países (Kikeri, Nellis e Shirley (1992) e Boycko, Shleifer e Vishny (1995) pesquisam a evidência relevante). Em sua frequente desconsideração por objetivos sociais, além de sua extrema ineficiência, o comportamento das firmas estatais é inconsistente com a justificativa de eficiência para sua existência.
haters gonna hate

A visão da governança corporativa tomada neste artigo ajuda a explicar os principais elementos do comportamento das firmas estatais. Enquanto na teoria essas firmas são controladas pelo público, o controle de facto pertence aos burocratas. Esses burocratas podem ser pensados como possuindo direitos de controle extremamente concentrados, porém sem direitos a fluxos de caixa significantes, porque a propriedade dos fluxos de caixa da firma é efetivamente dispersada entre os pagadores de impostos do país. Além do mais, os burocratas tipicamente têm objetivos próprios que são muito diferentes do bem-estar social, e são ditados por interesses políticos (Shapiro e Willig (1990), Boycko et al (1996), Shleifer e Vishny (1997). Em resumo, os burocratas que controlam as firmas estatais têm, at best, apenas uma preocupação indireta com os lucros (porque os lucros fluem para o orçamento do governo), e têm objetivos que são muito diferentes do interesse social. No entanto, eles têm virtualmente poder completo sobre essas firmas, e podem dirigi-las para perseguir qualquer objetivo político. Propriedade estatal é então um exemplo de controle concentrado sem direitos a fluxos de caixa e com objetivos socialmente prejudiciais. Vistas desta perspectiva, a ineficiência das firmas estatais não é surpreendente.
 Alguma relação com o texto?
O reconhecimento da enorme ineficiência das firmas estatais, e as pressões sobre os orçamentos públicos, têm criado uma resposta comum around the world nos últimos anos, chamada privatização."


domingo, 30 de junho de 2013

Análise Crítica: Artigo sobre Problemas de Agência em Firmas de Capital Aberto Edgerton/2012


O texto de hoje é sobre um artigo bastante recente sobre a Teoria da Agência, "Agency Problems in Public Firms: Evidence from Corporate Jets in Leveraged Buyouts”, cuja autoria é de Jesse Edgerton, publicado no Journal of Finance , volume 67 Edição 6, Dezembro, página 2187 a 2213, no ano de 2012.


Escolheu-se este material (assim como o próximo post), pois eu tive que fazer uma análise crítica de um artigo recente publicado em periódico de alto fator de impacto. Desta pesquisa, encontrei dois artigos muito interessantes - este que citarei hoje sobre Jets e outro, o próximo artigo do blog, sobre o efeito de CEO's superconfiantes em empresas de inovação, também publicado no Journal of Finance, que é classificado como A1 no Sistema Qualis Periódicos para Administração e possui altíssimo fator de impacto:


"O fator de impacto do The Journal of Finance cresceu de 4.218 em 2011 para 4.333 em 2012. JF está agora colocado como o primeiro lugar entre 86 periódicos de Negócios, na categoria de Finanças, e o terceiro lugar entre 332 periódicos na categoria Economia (tradução livre do autor)". (20/06/2013, clique aqui para ler a notícia na origem).

Jesse Edgerton possui Ph.D. em Economia pelo M.I.T. em 2009 e, atualmente, trabalha com Estratégia Global de Macro Crédito na The Goldman Sachs Group, Inc., além de possuir uma notável carreira profissional, passando pelo Federal Reserve Bank of New York, Federal Reserve Board e MIT Department of Economics. Além do Journal of Finance, o autor já publicou em outro periódico com alto fator de impacto, Journal of Public Economics, em 2010.

A discussão gira em torno da Teoria da Agência. A frase inicial do artigo é: “managers de uma firma podem às vezes tomar ações para se beneficiar às custas dos investidores da firma” (p. 2187). Uma crítica implícita no artigo é sobre a falta de transparência (transparency) em empresas nos E.U.A., tema este citado em palestras de financistas renomados, como Prof. Frank LaRocca, Ph.D.: “é possível que os executivos consumam em demasia jatos corporativos se os shareholders estiverem impossibilitados de monitorá-los ou incentivá-los de maneira apropriada” (p. 2188).

Edgerton examina dados de frotas de jatos corporativos operados por empresas de capital aberto e empresas controladas por Private Equity Funds, PE-funds, grandes fundos de investimento que realizam Leveraged Buyouts para tomar o controle de empresas de seu interesse. Alguns autores argumentam que “os executivos exercem muito controle sobre suas próprias compensações e frequentemente decidem por pagamentos excessivos a si próprios”. Neste sentido, este paper traz “nova evidência” através da “mensuração de um tipo particular de comportamento das firmas quando há potencial para abuso gerencial – o uso de jatos corporativos” (p. 2188).

Quem acha que vai andar desses "numa boa", depois que virar CEO, deve se preocupar com os estudos do Edgerton.

Assume-se que grande parte das atividades de executivos ligadas ao uso de jatos corporativos é perfeitamente consistente com a maximização do valor dos shareholders. Assim, o autor busca “fazer a distinção entre o uso excessivo e o eficiente dos jatos corporativos através da comparação entre frotas de jatos em firmas de capital aberto com aquelas das firmas controladas por PE funds (2012, p. 2188). Entretanto, expõe-se que "o uso de jatos em si pode ser oneroso, com custos operacionais podendo alcançar USD 5 milhões por jato/ano (com USD 1 milhão sendo “bem típico”)".

Edgerton comenta que “um grande conjunto de evidências sugere que a abordagem dos PE funds obtém êxito em melhorar a eficiência em companhias de portfólio” (p. 2188). Há três componentes identificados como chaves para a abordagem das PE-owned firms: 1) alta alavancagem, 2) gerência altamente sensível a desempenho e monitoração ativa das atividades da firma por profissionais habilidosos. Estas mudanças, segundo o autor, têm a intenção de transformar as firmas em organizações melhor gerenciadas e mais eficientes. Além disso, existe uma grande quantidade de evidência que sugere que, quando os PE funds tomam o controle, a eficiência das companhias de portfólio aumenta.

Por esse motivo,o autor interpreta as frotas de jatos observados em companhias de portfólio PE-owned como um benchmark de eficiência contra o que comparar as firmas de capital aberto. Isto é, se as firmas de capital aberto têm frotas maiores que as firmas de capital próprio, “eu interpretarei isto como evidência de uso excessivo de jatos em firmas de capital aberto” (p. 2189).

A partir daqui, Edgerton oferece seu modelo de Seleção de Propriedade das Private Equity funds, seguido de especificações das duas amostras que utiliza, além de detalhes sobre a coleta e tabulação de dados. Após esta etapa, o autor realiza diversas regressões para testar empiricamente suas hipóteses. Toda esta informação, contudo, será apenas resumida a seguir e não será replicada integralmente aqui apenas por eu entender que um leitor "casual" de tópicos sobre business finance não conseguirá compreender, sendo mais interessado na ideia geral por trás do trabalho e suas conclusões. Para o leitor mais interessado, seja um acadêmico, seja por outra razão, é possível clicar aqui e verificar diretamente no artigo original (são regressões OLS simples).

Afinal de contas, as firmas de capital aberto tendem a oferecer mais privilégios ao management? 

Primeiro, Edgerton testa uma amostra transversal de firmas, e os resultados de todas as regressões apontam apóiam sua hipótese nula. Depois, o autor utiliza uma outra amostra, contendo firmas que eram de capital aberto e passaram por um Leveraged Buyout. O resultado pode ser exemplificado pela imagem abaixo:

O primeiro gráfico representa a Fração de Firmas que possuíam pelo menos um Jato durante o tempo, tendo como referência anos "antes da LBO" e "depois da LBO". É notável que, nesta amostra, depois da LBO, muitas empresas deixaram de possuir jatos, mesmo que fossem frações (o autor toma isso em consideração).



O segundo gráfico representa a relação entre Assentos em Jatos e Receitas Anuais. A mesma redução significativa é notada.









Estes resultados, assim como todos os outros citados no artigo, corroboram com o benchmark de Edgerton, ou seja, as empresas que são PE-owned realmente são mais eficientes do que as de capital aberto e, mais importante, privilégios com jatos, que consomem recursos significativos, são efetivamente reduzidos após as LBOs.

Como acontece essa redução? Aparentemente, pela troca de CEO! O autor escreve que “uma simples inspeção dos dados sugere que há uma relação clara entre as firmas que reduziram suas frotas após o buyout e as firmas que tiveram mudanças em seus CEO’s” (p. 2205-2206).
"[...] as reduções de frota observadas em firmas que passaram por LBO’s são, de fato, correlacionadas com executivos que desfrutaram de privilégios especialmente generosos e pacotes de compensação no período anterior ao LBO que tenderam a ser removidos após o LBO" (p. 2206).

É... não adianta nada "se aproveitar" e depois ser demitido por isso!

Conclusões de Edgerton
“Este paper apresenta evidência que mostra que firmas pertencentes a fundos de Private Equity em média possuem menores frotas de jatos do que empresas de capital aberto ou privadas que não são de Private Equityfunds. Essa diferença não é propensa a ser influenciada por variáveis omissas na análise transversal, já que também há claras reduções no tamanho da frota entre empresas de capital aberto que foram alvos de LBO’s privados” (p. 2211).

O autor argumenta que estes resultados são bastante consistentes com a presença de problemas de agência em uma substancial minoria de firmas de capital aberto. “Eu vejo esses resultados como contribuições um pouco diferenciadas para o debate sobre a severidade dos problemas de agência nas firmas de capital aberto e a necessidade de mais reformas na compensação executiva. A propriedade dos PE funds claramente reduz as frotas de jatos, e há muitas firmas de capital aberto cujas frotas parecem ser maiores do que os padrões das firmas PE-owned. [...] Apesar disso, firmas de capital aberto com frotas de jatos excessivas são a minoria. Este tipo de problema de agência que se manifesta em frotas de jatos com tamanho excessivo estão longe de ser onipresentes em empresas de capital aberto” (p. 2212).   

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Case de Social Media: Infográfico do Guri de Uruguaiana 26/06/13

Hoje, 26/06/2013, foi publicado no blog de Jair Kobe um infográfico sobre a progressão nas mídias sociais do personagem "Guri de Uruguaiana", criado e interpretado pelo humorista e que brinca/faz comédia com elementos da cultura gaúcha.



O autor acredita que estes resultados podem ser interpretados como um case de sucesso. Apesar do autor deste texto ser fã do personagem, não há intenção de se fazer propaganda comercial alguma, apenas uma análise dos números apresentados. A "base de dados" é super restrita, o que limita bastante qualquer conclusão. Apesar disso, apenas como "um aprofundamento" no material oferecido, vamos analisar o que está disponível, tomando sempre em consideração as limitações desta "pesquisa".

Como este artigo é apenas uma busca sobre o desempenho nas mídias sociais de modelos de negócios, acredito ser válida a contribuição quando tomo em consideração as diversas dúvidas existentes na mente dos empresários sobre os reais retornos provenientes de investimentos na web, ou seja, de investimentos em planejamento de estratégias digitais acompanhados de uma eficiente execução em conjunto sempre com a agência de publicidade ou profissionais da área de marketing e um designer, no mínimo, que são onerosos por natureza e geram dúvidas na mente de quem está no mercado há mais tempo.

Eu avalio os resultados como bastante positivos, levando em consideração:

  1. as notícias recentes sobre o sucesso o "Guri de Uruguaiana", com relatos positivos de fãs pela internet, com fotos nos canais oficiais e também em jornais que mostram sempre os auditórios e teatros lotados;
  2. o fato de o Rio Grande do Sul possuir uma cultura muito específica, diferenciada do restante do Brasil, e que este estado possui, segundo o IBGE, 10 milhões de pessoas, o que limitaria bastante o público-alvo para este modelo de negócio.
Vamos aos números contidos no infográfico:


Ano Evento Quantidade Métrica
2008 Lançamento Site Oficial sem métricas.
2009 Entrada Orkut sem métricas.
2009 Lançamento Blog 5520 visitas mensais
2009 Vídeo Paródia Thriller  247000 views
2010 Entrada Twitter 73200 followers
2010 Vídeo Paródia Guritles 1013000 views
2010 Game Interativo Sequestro Silvia Helena 47000 views
2011 Vídeo Paródia Gurillage People 540000 views
2011 Visitas ao Blog 30000 visitas mensais
2011 Lançamento Twitcam 350 audiência média por edição
2011 Lançamento Fanpage Facebook 291000 curtir
2012 Vídeo Paródia Guri Teló 518000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 1 310000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 2 136000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 3 113000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 4 88400 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 5 51200 views
2012 Vídeo Paródia Guri Psy 1540000 views
2012 Lançamento Novo Site sem métricas.
2012 Twitcam vira Guri TV 650 audiência média por edição
2012 Guri entra nos Trend Topics ao participar do programa Agora é Tarde sem métricas.
2013 Vídeo Harlem Shake do Guri 130000 views
2013 Vídeo Paródia Gurigles Hotel Califórnia 18000 views
Vídeo Paródia Amor de Chocolatchê 720000 views
Série Barriga Certa sem métricas.
Fonte: Infográfico (clique aqui para ver na origem)

Vamos analisar a estratégia que está sendo executada pela equipe de social media do Guri.
Além de estar bem colocado no Google, estão sendo utilizados diversos canais digitais para alcançar público, dentre eles: o YouTube, Facebook, Twitter, Blog, Site Oficial, Formspring e Flickr. Em cada uma destas redes sociais, há um alcance significativo. Por exemplo, o Facebook, atualmente, possui 290 mil curtir. No Twitter, 74.000 seguidores.

Com publicações regulares em todos os canais, além das ações diversas de interação e engajamento positivo com o público, juntamente com sorteios e propaganda, é claro, o Guri está conseguindo um engajamento crescente junto a seu público, além de estar desbravando novos mercados, i.e., está conseguindo visibilidade para conseguir demanda de seu show em outros lugares distantes do RS, que ainda não conheciam o personagem (porém, por algum motivo, gostam de sua comédia, seja por ser gaúcho, seja por divertimento).

Além disso, percebe-se uma ação consistente ligada ao conteúdo em vídeos, que está oferecendo em retornos altos números de visualizações, principalmente quando compara-se este número de visualizações com o número de inscritos no canal do YouTube: "apenas" 23 mil usuários.

Agora analisaremos como está a progressão das visualizações dos vídeos:

Ano Evento Quantidade Métrica
2009 Vídeo Paródia Thriller  247000 views
2010 Vídeo Paródia Guritles 1013000 views
2010 Game Interativo Sequestro Silvia Helena 47000 views
2011 Vídeo Paródia Gurillage People 540000 views
2012 Vídeo Paródia Guri Teló 518000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 1 310000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 2 136000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 3 113000 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 4 88400 views
2012 Vídeo Paródia Horário Eleitoral 5 51200 views
2012 Vídeo Paródia Guri Psy 1540000 views
2013 Vídeo Harlem Shake do Guri 130000 views
2013 Vídeo Paródia Gurigles Hotel Califórnia 18000 views
Vídeo Paródia Amor de Chocolatchê 720000 views

Estatísticas
Nº Visualizações 
N Válido 14
Ausente 0
Média 390828,57
Amplitude 1522000
Mínimo 18000
Máximo 1540000
Soma 5471600




O vídeo do Guri de Uruguaiana que teve menos visualizações, conseguiu 18.000, e o máximo foi 1540000. No total, 5 milhões e 400 mil visualizações em "apenas" 14 vídeos e quatro anos.

Percebe-se que a estratégia na confecção dos vídeos está ligada a "aproveitar a onda" de certos eventos e acabam por "angariar" milhares de visualizações, o que é legítimo. Porém, mesmo assim, é muito difícil conseguir estes resultados.

Entretanto, quando analisado sob a ótica dos resultados de uma Regressão Linear Simples, nota-se algo não muito animador, entretanto:


O segundo gráfico mostra os mesmos dados, somados ano a ano. A linha de tendência mostra um bom crescimento ao longo dos anos. Entretanto, uma análise desta forma ganha viés pelo outlier de 1.500.000 visualizações, a Paródia do Guri Psy.

Se retirarmos esse outlier do banco de dados, e substituí-lo pela média temporal até aquele momento, que são 306.360 visualizações por evento, a linha de tendência muda significativamente:


Quando tomamos a time serie evento por evento, (primeiro gráfico), note que, na realidade, este grande boom serviu apenas para manter constante a média de visualizações. Se não houvesse este pico significativo, a tendência ao longo dos anos seria negativa. O primeiro gráfico mostra a progressão de visualizações ao longo do tempo, de 2009 a 2013, segundo a tabela anterior. Note que o desempenho dos vídeos estava caindo sistematicamente até o meio de 2012, quando houve um boom.

Quando toma-se em consideração que a produção de vídeos é uma das principais ações de marketing digital desta estratégia, esta análise pode tomar um tom pessimista. Claro que a amostra de observações é muito pequena, e isso quer dizer que não se deve levar "ao pé da letra" o que aqui escrevo. Como comentei anteriormente, o propósito deste artigo é o de evidenciar alguns detalhes de social media. Por esta razão, apenas que me propus a fazer esta análise superficial baseada em um banco de dados super restrito.

Apesar desta última observação, não esqueçamos que o vídeo menos acessado possui 18 mil visualizações (excelente resultado, em minha opinião)! As 5 milhões de visualizações são extremamente significativas, e ponto final.

Além disso, mídia mostra um relativo sucesso do Guri de Uruguaiana, com muitos shows divulgados e notícias de casas cheias, além do excelente engajamento com o público realizado nas demais mídias, o que  é fomentado diretamente pela qualidade da estratégia digital. Além disso, a recíproca também é verdadeira neste caso: a repercussão offline também agrega valor à estratégia de marketing digital deste negócio.

Faço aqui um elogio a esses profissionais de social media, pelo grande sucesso nas redes sociais. Como vocês têm acesso a todas as informações referentes aos vídeos, deixo aqui esta análise superficial apenas como sugestão de análise interna para teste de hipótese.

Um grande abraço, a até o próximo artigo!



domingo, 23 de junho de 2013

IPO's do Facebook e LinkedIn: Modelo Tridimensional de Governança Corporativa



Ainda na "onda" do artigo anterior, onde comenta-se sobre o modelo tridimensional de governança corporativa proposto por Joseph A. McCahery, Erik P. M. Vermeulen e Masato Hisatake em 2013 (conforme citação completa abaixo), serão transcritas, em tradução livre, partes do paper em questão onde os autores mostram detalhes sobre o processo de IPO do Facebook e do Linkedin, sempre focados nos detalhes sobre governança corporativa e comparando o relativo fracasso do IPO do Facebook em relação ao sucesso do IPO do Linkedin.

McCahery, Joseph A., Vermeulen, Erik P. M. and Hisatake, Masato, The Present and Future of Corporate Governance: Re-Examining the Role of the Board of Directors and Investor Relations in Listed Companies (April 21, 2013). Lex Research Topics in Corporate Law & Economics Working Paper No. 2013-3; ECGI - Law Working Paper No. 211. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=2254520 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2254520





"[...] então, há os investidores do Facebook.Quais são as suas visões sobre o Facebook? Bem, isso depende bastante da data em que os investimentos foram feitos. O fundador Mark Zuckerberg e funcionários antigos obtiveram grandes ganhos da oferta pública inicial (IPO) di Facebook na NASDAQ em Maio de 2012. Além disso, investimentos em estágio inicial obtidos através de angels e fundos de capital de risco no Facebook haviam sido altamente lucrativas. Por exemplo, o angel Peter Thiel, que é considerado o primeiro grande investidor do Facebook, fez um investimento de USD 500.000,00 e recebeu aproximadamente 10% da companhia em 2004. O retorno estimado deste investimento é mais que 2.000 porcento, baseado nas transações privadas antes do IPO, na venda de 16,8 milhões de ações ordinárias durante a IPO em Maio de 2012 (por um total de aproximadamente USD 638 milhões) e a emissão de 20,1 milhões de ações ordinárias depois do vencimento do período lock-up em Agosto de 2012 (por um total de USD 396 milhões). (p. 3)
[...]
Foi amplamente esperado que o Facebook tivesse um dos IPO's de maior sucesso na história dos mercados de capitais dos Estados Unidos. E, como esperado, o IPO foi precificado a USD 38,00 por ação, num preço com o qual o Facebook conseguiu levantar uma quantidade de USD 16 bilhões - fazendo este o terceiro maior IPO da história dos E.U.A.
No dia 18 de Maio de 2012 (aniversário do tradutor), a negociação de ações do Facebook na NASDAQ abriu a um promissor USD 42,05 por ação, porém o IPO falhou em produzir o geralmente esperado alto retorno do primeiro dia (generally expected high first-day return). Pesquisa empírica analisando 2.634 empreendimentos de risco apoiados em IPO's, desde 1980 até 2010, mostra que a média do first-day pop é 27,9%. O pequeno 0,6% do pop do Facebook claramente também decepcionou um grande número de investidores que compraram ações na offering ou adquiriram-nas através das transações privadas pre-IPO. (p. 3-4)

 

[...]
Notavelmente, o IPO decepcionante do Facebook aconteceu precisamente como os experts de governança corporativa haviam predito. Quando o Facebook anunciou que iria adotar uma estrutura de governança similar a de outras companhias de social media listadas no mercado de capitais recentemente, como Groupon e Zynga, eles (o Facebook) já deram um aviso aos investidores que a criação imediata de valor para os shareholders não seria a maior prioridade para o Facebook. A muito citada emissão de ações com múltiplos votos dá ao fundador do Facebook Mark Zuckerberg um controle dos votos em excesso em relação ao seu papel na companhia. De fato, ele possui aproximadamente 28% de sua companhia após o IPO, mas a estrutura de ações dual class permite a ele exercer 56,9% do poder de votação, reduzindo, assim, os direitos dos shareholders e reduzindo a influência do conselho de diretores. (p. 4-5)
[...]
Não há resposta fácil. Se você peguntar aos advogados da escola "antiga" ou convencional de governança corporativa, eles apontarão para o problema de agência entre Mark Zuckerberg e os investidores públicos. Eles não veem razão que justifique o porquê de Mark Zuckerberg deveria operar sem os mecanismos e instituições legais que incorporam mecanismos de monitoramento e garantem aos managers selecionarem projetos de alto valor presente líquido. Apesar da teoria convencional de governança corporativa, pesquisas recentes em mecanismos de governança sugerem uma perspectiva mais germana. Alternativamente, experts menos conservadores olham através deste modelo unidimensional de controlar comportamentos errôneos da gerência e aumentam valor para os shareholders e para os stakeholders. Eles propõem uma estratégia de investimentos a longo prazo suplementada por restrições institucionais e ativismo por partes dos shareholders. Ao desenvolver sua teoria, o rationale em adicionar uma oura dimensão ao modelo principal-agent é o de estabelecer e proteger comprometimentos de longo prazo e confiança dentro da companhia. [...] Assim, no caso do Facebook, isso significa que os shareholders deveriam entender que estão investindo no Mark Zuckerberg, se renderem ao compromisso de longo prazo e focarem sua atenção no fundados do Facebook. Nesta instância, como em outras, os shareholders deveriam ficar confortáveis com as altas taxas de satisfação entre os stakeholders mais importantes da companhia, seus usuários e empregados.
Se aceitarmos um modelo bidimensional de governança corporativa, o caso do Facebook sugere que resta um problema. Mecanismos de governança corporativa que são desenhados para se alinhar aos interesses de longo prazo dos stakeholders do Facebook (seus empregados e seu crescente número de usuários) e os interesses de curto prazo dos investidores aparentam ser inconsistentes e mutuamente exclusivos. Uma outra dificuldade pode aparecer na disponibilidade de métodos de incentivar os investidores de longo prazo. Apesar disso, nós usamos a análise do Facebook e de outras companhias em crescimento para desenvolver uma nova teoria da governança corporativa que nós já observamos em prática. O argumento teórico apresentado neste paper sugere que um modelo tridimensional, onde o foco no crescimento futuro e criação de valor é a chave, ajuda a resolver o dilema da governança corporativa que resulta do desequilíbrio entre as estratégias de investimento a curto prazo e a perspectiva de longo prazo.[...] Para entender melhor as dinâmicas entrelaçadas entre as três dimensões da governança corporativa, considere o IPO da LinkedIn, outra companhia de social media.
Similar ao Faceook, a parte mais controversa da estrutura de governança corporativa do LinkedIn é seu uso de ações com múltiplos votos. A partir do seu IPO em 18 de Maio de 2011 (de novo, aniversário do tradutor! \o/), o co-fundador Reid Hoffman, junto com investidores-chave de capital de risco compraram ações de classe B, que os davam 10 votos por ação. As ações de classe A, com um voto por ação, foram oferecidas ao público. Através do modelo unidimensional de governança corporativa, as práticas reforçariam o poder de shareholders controladores o que seria, então, inaceitável. Apesar disso, Reid Hoffman, que também é o chairman do conselho de diretores do LinkedIn (e parceiro part-time em uma firma de capital de risco no Vale do Silício), tem (direta ou indiretamente) uma parte minoritária de aproximadamente 16,3% das ações existentes de classe A e B, porém controlava aproximadamente 61,5% do poder de votos em 31 de Dezembro de 2012. 

Reid Hoffman

Ainda, a considerada fraqueza da governança corporativa não diminuiu o interesse dos investidores. Uma explicação plausível para esta situação é que os investidores normalmente sofrem de miopia, dando pouca atenção aos detalhes. Entretanto, no caso do LinkedIn, sua "cegueira" deu a eles lucros enormes. Foi apenas sorte (a comparação entre mercado de capitais e cassinos é frequentemente feita) ou alguma outra coisa? Vamos retornar a nossa comparação entre LinkedIn e Facebook.
Em contraste com o Facebook, Linkedin possui prospects atraentes e com crescimento sustentável. Enquanto o Facebook experimentou um crescimento esperado em seus produtos mobile, sem conseguir monetizá-los, o LinkedIn rapidamente se tornou a ferramenta dominante de social media para networking profissional.  Mais importante, as companhias estão cada vez mais utilizando o serviço pago de recrutamento do LinkedIn para encontrar e selecionar empregados talentosos. A previsão de crescimento atual do LinkedIn (mais que sua performance financeira atual) o distingue dos demais. Seus usuários amam seus produtos. Ainda mais, o LinkedIn conseguiu uma posição top-5 no ranking das melhores companhias tech para se trabalhar em 2013. Note que seu CEO, Jeff Weiner, recebeu um suporte dos empregados de 91%. 

Jeff Weiner

O que é mais interessante é que seu preço da ação tinha subido mais de 150% em 31 de Dezembro de 2012, satisfazendo tanto os investidores de curto prazo quando os de longo prazo. Mas, como nossa pesquisa mostrará, crescimento em si próprio não é suficiente. Assim, para assegurar que investidores de curto prazo e os "ativistas" não "interferissem" com o crescimento sustentável de longo prazo, o LinkedIn entendeu que seria crucial comunicar de forma precisa e consistente com ambos tipos de investidores sobre seu modelo de negócio, desenvolvimento de produtos, impacto econômico e, mais importante, prospect de crescimento. Além disso, as relações que funcionam bem do LinkedIn e o serviço de comunicações corporativas construiu uma estratégia efetiva de mercado de capitais que é refletida em seu desempenho positivo na IPO, sugerindo que uma comunicação clara do prospect de crescimento da companhia é um dos elementos mais importantes no modelo tridimensional de governança corporativa." (p. 4-7)

sábado, 22 de junho de 2013

Teoria do Modelo Tridimensional de Governança Corporativa

Depois de um justificado tempo ausente, este blog retornará a suas atividades a partir de hoje!

O assunto do artigo de hoje é, para o autor, um chamado mindblow, pois se refere se maneira muito clara e atual sobre uma problemática polêmica dentro dos estudos de Governança Corporativa, propondo uma nova resposta para a questão: "qual modelo é o mais adequado para orientar as decisões dos gestores?" 

A teoria dos shareholders ou a teoria dos stakeholders? Uma breve discussão sobre as duas abordagens está neste link, referente a um artigo que escrevi em 2012 (não publicado), onde, concluía-se a superioridade da teoria dos shareholders por uma única razão primordial: sua mensurabilidade, fator este não existente na literatura da teoria dos stakeholders.

Num sentido de ampliar a discussão e apontar uma nova direção é que se desdobra a discussão do artigo científico de Joseph A. McCahery, Erik P. M. Vermeulen e Masato Hisatake, publicado em Abril de 2013 e disponível neste link.

Assim, os autores vão além do chamado modelo bidimensional, onde se aproveitaria o melhor de cada uma das abordagens (shareholders  x stakeholders), e propõem a necessidade de uma terceira dimensão.


Propõe-se uma "Teoria do Modelo Tridimensional de Governança Corporativa". 
"Esse paper argumenta que os investidores e outros stakeholders apreciam a diversidade em estruturas de governança corporativa quando relacionada à crescimento futuro, inovação e criação de valor.
[...]
...nós argumentamos que, em um modelo de governança corporativa tridimensional, estruturas e mecanismos "feitos sob medida" têm um papel importante em melhorar a atratividade geral e a força competitiva de uma companhia" (2013, p. 8, tradução livre).

Para melhorar ainda mais, os autores utilizam os casos dos IPO's do Facebook e da LinkedIn, além de diversas outras empresas, para exemplificar evidências empíricas favoráveis a seu modelo.

Sem mais!
Até o próximo artigo!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Este Blog não morreu!

Olá,

apesar da falta de publicações, venho a comunicar a nosso público-alvo que as atividades deste blog encontram-se apenas em "espera", devido à impossibilidade do autor em reservar tempo para as publicações, pois encontra-se cursando um Mestrado em Administração que lhe está ocupando 110%.

O plano é retornar às atividades ainda em Maio/2013, onde serão retomados os artigos sobre temas ligados à Administração, Economia, Sociologia e outros.

Um grande abraço,

Leonardo Chalhoub

sábado, 2 de março de 2013

"Efeito Prestígio" x Brasil Atual

O artigo de hoje será mais curto do que o usual, porém bastante denso, para fazer o leitor refletir sobre a atual situação brasileira... Chamo a atenção para o fato de que isto foi escrito em 1965.





“O pensamento sociológico no Brasil tem sido um fenômeno explicável pelas leis daquilo que Gabriel Tarde chamava de imitação-moda. No caso, a assimilação da produção sociológica estrangeira se verifica sob o alcance do “efeito prestígio”.


[...]


O conhecimento dos padrões de vida dos povos desenvolvidos leva todas as classes sociais nos países subdesenvolvidos a pretenderem consumos relativamente altos, que dificultam a acumulação de capital. Nos países periféricos, a propensão a consumir, na escala e modalidade equivalentes às dos países industrializados, dificulta o seu desenvolvimento, pois desestimula a poupança, assumindo caráter predatório.”
Guerreiro Ramos


A Redução Sociológica

1965

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Início do Facebook: lição de empreendedorismo.


Para complementar o artigo Aspectos do Empreendedorismo, publicado no mês passado, a publicação de hoje é apenas um adendo para animar a todos aqueles que ainda desconfiam do poder do empreendedorismo.

Há exatos nove anos (05/02/2004), nascia o thefacebook, em Harvard.
Na página de Eduardo Saverin, o famoso CFO do Facebook, está compartilhada a imagem abaixo, mostrando os primórdios da poderosa rede social.




Como se pode ver, com um layout bem simples, baseado em textos, sem anúncios e com uma proposta completamente diferente da atual: ainda assim, esta ferramenta tornou-se o que é atualmente.

Muitos criaram diversas outras ferramentas, úteis ou não, interessantes ou não, que não se difundiram, não deram certo. Sempre existirá o risco de fracasso, porém Mark Zuckerberg e sua equipe foram além e hoje são parte de uma empresa bilionária.

Para concluir, resume-se a mensagem: 
no empreendedorismo, não importa como você começa e sim, SE você começa.
Os ajustes são feitos ao longo do tempo de vida do empreendimento.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

"Social Media Marketing não é baratinho"


O próximo artigo seria sobre Social Media, porém foi encontrado o material abaixo, escrito há dois anos atrás, que está tão bom, mas tão bom, que foi replicado...

Twitter do autor: https://twitter.com/wgabriel1

"Social Media Marketing não é baratinho"

No Money
Claro que não é razoável colocar uma superprodução de TV como parâmetro para dizer que a produção de uma ação de social media marketing é barata. O alto preço da mídia televisiva não é apenas devido a sua alta visibilidade por vários públicos, mas também por causa da quantidade de recursos técnicos e humanos que ela movimenta.

É certo que, geralmente em ações de social media marketing, a quantidade de recursos técnicos e humanos é bem inferior à produção de um comercial de TV e sua veiculação. Contudo, não é só por isso que se calcula o preço de uma campanha. O mais caro recurso de campanhas on-line é justamente o que faz seu sucesso: o pensamento digital, planejado, criativo e atento para trabalhar bem com Internet. É a sacada totalmente alinhada com os conceitos da Internet, que as boas e afinadas equipes digitais geralmente conseguem ter. A TV, por exemplo, também não só exige esse pensamento, essa sacada, como cobra caro por essa expertise. Por que seria diferente com as demais mídias?
Especialista em Social Media Marketing
Os profissionais de marketing digital precisam manter sua postura de profissionais que também são, de executivos de marketing especialistas como outros gabaritados. Eles e seus clientes precisam enxergar que trabalham com uma inteligência de marketing ainda especializadíssima, cuja chance de erro é alta por ainda não se saber muito bem qual o padrão de sucesso para trabalhar com mídias sociais. Então, se a chance de erro ainda é alta, imagine você se trabalhar com equipes despreparadas e baratinhas…

Aliás, para quem acha também que social media marketing não gasta recursos, é importante ler um pouco sobre comunicação integrada. Uma atividade isolada de social media marketing, sem ligação com uma estratégia maior dentro de uma campanha, está fadada ou ao sucesso limitado e temporário ou ao completo fracasso.
Ações vitoriosas de social media marketing se baseiam em relacionamentos duradouros e conteúdo relevante específico para o público-alvo.
Se sua agência ou seu cliente acreditam em precinho para ações de social media marketing, talvez seja por isso que eles ainda não deram resultado, porque correm atrás do próprio rabo.